"Não há felicidade senão com conhecimento. Mas o conhecimento da infelicidade é infeliz; porque conhecer-se feliz é conhecerse passando pela felicidade, e tendo, logo já, que deixá-la atrás"

Fernando Pessoa, Livro do desassossego de Bernardo Soares

Considere a afirmação de Fernando Pessoa e comente-a tendo em conta "a dor de pensar". Fundamente-se na sua experiência de leitura. Redija um texto expositivo-argumentativo bem estruturado de 80 a 130 palavras.

 

    “A dor de pensar” é um dos temas que Fernando Pessoa ortónimo utiliza nos seus poemas.

    Fernando defende que só se pode ser feliz se não se pensar, pois o ato de pensar é incompatível com a felicidade. O poema “Ela canta, pobre ceifeira” é um exemplo desta ideia, pois o poeta só considera que a ceifeira é feliz porque ela não pensa, é inconsciente: “Ah, poder ser tu, sendo eu! / Ter a tua alegre inconsciência / E a consciência disso!”.

    O poeta quer ter a felicidade da ceifeira mas com consciência, algo que é impossível.

    De facto, o ato de pensar pode-nos mostrar as coisas menos boas da vida, mas é algo que é impossível não fazer.

 

 

"Alberto Caeiro[...] surge como um homem de visão ingénua, instintiva, gostosamente entregue à infinitiva variedade das sensações".

Jacinto do Prado Coelho, Dicionário de Literatura

Exponha, num texto cudado, de 80 a 130 palavras, a sua perspectiva de leitura a partir da análise do pensamento transcrito.

 

    Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta das sensações, que vive sem utilizar o pensamento.

    O poeta através dos seus poemas, como “O Guardador de Rebanhos” dá-nos a ideia “do sentir sem pensar”, sendo o criador do sensacionismo, vivendo de sensações, sobretudo visuais, afirmando que é preciso “saber ver sem estar a pensar”, sem tentar “encontrar um sentido às coisas” porque “as coisas não têm significado: têm existência”.

    O eu lírico identifica-se com as sensações, mas não com o pensamento recusando-o pois defende que vive só e apenas através das sensações da realidade.

    Em suma, apesar de Alberto Caeiro não ser apologista do pensamento, este é algo ao qual ninguém pode fugir.

 

"Vem sentar-te, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa..."

 

Partindo dos versos transcrito, explicite, num texto cuidado, de 80 a 130 palavras, o posicionamento de Ricardo Reis perante a vida e as suas vicissitudes.

 

    Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, defende uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e do estoicismo.

    O epicurismo defende o prazer como caminho da felicidade. O poeta procura o estado de ataraxia, ou seja, de tranquilidade. Reis defende o prazer do momento, considerando o carpe diem (aproveita o dia) o caminho da felicidade.

    Como os versos transcritos demonstram, a obra de Reis apresenta um epicurismo triste, uma ilusão da felicidade por saber que tudo é passageiro (“Vem sentar-te comigo, Lídia”).

    Já o estoicismo defende que se viva em conformidade com as leis do destino, permanecendo indiferentes aos males e às paixões (estado de apatia).

    Em suma, reconhecendo a fraqueza humana e a inevitabilidade da morte, Reis procura uma forma de viver com o mínimo de sofrimento.

 

" Flores que colho, ou deixo, / Vosso destino é o mesmo"

Tal como Caeiro, o Mestre dos outros heterónimos, Ricardo Reis também repara na Natureza e nas flores, mas tem um entendimento racional do destino.

Partindo das palavras acima, construa um texto de oitenta a cento e trinta palavras em que reflicta sobre a necessidade do prazer do momento, perante o fatal destino

 

      Ricardo Reis, discípulo de Alberto Caeiro, tem um entendimento racional do destino.

    Para Reis, a vida é efémera e o futuro imprevisível. Não nos devemos opor ao destino, antes aceitá-lo com naturalidade, pois o destino até se encontra acima dos deuses.

    Caeiro proponha-nos o saber ver, a obra de Reis sugere-nos o saber contemplar, ou seja, ver intelectualmente a realidade: “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”.

    Por outro lado, para se atingir a felicidade devemos encontrar a ataraxia, a tranquilidade capaz de evitar qualquer perturbação, e devemos ser apáticos, isto é, viver com calma, abstendo-nos de esforços inúteis.

    Concluindo, Ricardo Reis defende o prazer do momento, o cape diem, como caminho da felicidade e o viver em conformidade com as leis do destino.

 

 

 

 

 

Um Oriente ao oriente do Oriente"

 

Álvaro de Campos, "Opiário"

 

"À dolorosa luz das grandes lâmpada eléctricas da fábrica

Tenho febre e escrevo"

Álvaro de Campos, "Ode Triunfal"

 

"E, ah com que felicidade infecundo cansaço,

Um supremíssimo cansaço,

íssimo, íssimo, íssimo,

Cansaço..."

Álvaro de Campos, "O que há em mim é sobretudo cansaço"

 

Elabore uma nota de apresentação da obra de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernado Pessoa), com um mínimo de 80 e um máximo de 120 palavras, que pudesse figurar na contracapa de uma antologia de poesia deste autor, tendo como base a informação fundamental dos excertos transcritos.

 

    Álvaro de Campos é o mais moderno dos heterónimos de Fernando Pessoa. A obra de Campos passa por três fases.

    Na fase decadentista, em “Opiário”, o tédio, o cansaço e a saturação da civilização provocam a necessidade de novas sensações (o ópio). A fase futurista caracteriza-se pela exaltação da energia e da velocidade. Na “Ode Triunfal”, Campos faz o elogio à máquina e exalta o progresso técnico. Passada a fase eufórica, o desassossego de Campos leva-o a revelar uma fase intimista, a ponto de desejar a própria destruição. Há, nesta fase, o tédio que perante a incapacidade das realizações, trás de volta o abatimento (“Lisbon Revisited”).

    Assim, numa linguagem nervosa e exuberante, Campos mostra ser o heterónimo mais complexo.

 

“Os Lusíadas suscitam reações contraditórias. São, por um lado, uma obra laboriosa e árdua de ler – e, por outro, um deleite, para dizer como Tétis ao Gama.”

 

      Os Lusíadas, obra de Luís Vaz de Camões, é a epopeia que conta a descoberta do caminho marítimo para a Índia.

     Por um lado, ler Os Lusíadas é uma tarefa árdua pois os poemas são  relativamente extensos e a sua linguagem não é propriamente fácil de ler, não só porque contém palavras que não usamos no quotidiano, mas também porque utiliza uma linguagem do século XVI.

     Por outro lado, é um gosto ler esta obra que narra a nossa história recheada de mitologias e metáforas. Nesta epopeia percebemos quão dura foi a realidade para os portugueses, desde as doenças, à fome, às temperaturas, às batalhas.

     De facto, é um marco na história da Literatura portuguesa, uma obra que todos deviam conhecer porque mostra-nos, sobretudo, quão rica é a nossa literatura.

 

"O sebastianismo é abordado por Fernando Pessoa como mito que exprime o drama de um país moribundo "à beira mágoa", a necessitar de acreditar de novo nas suas capacidades e nos valores que antigamente lhe permitiram a conquista dos mares e a sua afirmação no mundo."

 

    Em Mensagem surgem diversos mitos, nomeadamente o do Sebastianismo. D. Sebastião é, também, apresentado como o Encoberto ou o Desejado.

     Ao longo da Mensagem, a figura de D. Sebastião evolui do símbolo de um príncipe infeliz, desaparecido em Alcácer Quibir, para a figura que vai regressar e fundar o Quinto Império.

     Assim, o mito Sebastianista consiste no regresso do Desejado no seu sentido simbólico, isto é, este regresso não seria da pessoa carnal do rei D. Sebastião, mas sim daquilo que ele representa.

     Em suma, ao utilizar o mito sebastianista, Pessoa pretendia despertar a consciência da nação portuguesa para criar forças que iriam fundar os alicerces do futuro império português.

 

"Mensagem, enquanto poema épico-lírico, rivaliza com o canto épico da Literatura Portuguesa - Os Lusíadas de Luís de Camões."

 

     Os Lusíadas, canto épico da literatura portuguesa, celebra o passado glorioso do encontro entre o Ocidente e o Oriente. Nesta epopeia, conta-se a história de Portugal que deve ficar presente na memória de todos. Portugal é visto como a cabeça da Europa e a poesia d’Os Lusíadas é narrativa, pois conta uma história.

     Já na Mensagem, poema épico-lírico, há uma glorificação do futuro, valorizando o papel de Portugal na civilização ocidental. O poema traduz um ciclo: a origem, passando pela fase adulta até à morte, a que se seguirá a ressurreição (o Quinto Império). Aqui, Portugal é o rosto contemplativo da Europa.

 

Na peça Felizmente Há Luar! assumem particular relevância o tema da opressão e o efeito cénico da luz.Fazendo apelo à tua experiência de leitura, apresenta, de entre os dois aspetos referidos, aquele que para ti se revelou mais significativo nesta obra de Luís de Sttau Monteiro. Desenvolve a tua opinião num texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de oitenta a cento e trinta palavras.

 

No decorrer da peça Felizmente Há Luar o tema da opressão assume uma particular relevância.

O povo vive numa situação de repressão originada pelos “senhores do Rossio”. Esta opressão é, verdadeiramente, marcada na obra através do som dos tambores.

Na obra, há um recuo no tempo onde se revêm acontecimentos históricos, que levam o leitor a relacioná-los com o presente, interpretando-os e reflectido sobre a necessidade de lutar contra qualquer opressão.

Com o distanciamento histórico, é representado um ambiente político repressivo dos inícios do século XIX, com o objectivo de provocar a reflexão sobre um tempo de opressão e de censura que se repete no século XX.

Assim, Felizmente Há Luar é uma obra intemporal que nos remete para a luta do ser humano contra a tirania, a injustiça e todas as formas de perseguição.

 

 

  Dos espaços físicos representados na obra Memorial do Convento refere um que consideres significativo, explicando  a sua importância na narrativa. Desenvolve a tua opinião num texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de 80 a 130 palavras.

 

Na obra Memorial do Convento, um dos espaços físicos mais relevantes para a sua narrativa é o Alto da Vela, situado em Mafra.

O Alto da Vela é um espaço de extrema importância porque foi lá que foi construído o Convento.

 Este convento que por um lado simboliza a loucura de um Rei, D. João V, que prometeu levantar um convento na vila de Mafra se Deus lhe desse sucessão, e por outro lado representa o esforço, a iniciativa e a potencialidade de toda uma multidão de pessoas desconhecidas que se sacrificaram, sofreram e, em alguns casos, pagaram com a própria vida para levar a cabo a construção do convento.

Assim, é esta grandiosa obra, que relembra as pessoas anónimas que trabalham e morreram, no Alto da Vela, para o convento de se levantar.