Felizmente Há Luar !
Quem foi Luís de Sttau Monteiro ?
Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro (03-04-1926, Lisboa - 23-07-1993, id.), dramaturgo e romancista, formou-se em Direito, mas optou pelo jornalismo. O tempo passado em Inglaterra, durante a juventude, possibilitou-lhe o contacto com movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica e foram fundamentais na sua formação intelectual. As suas sátiras sobre a ditadura e a guerra colonial tornaram-no objeto de perseguição política e levaram-no à prisão.
Apresentação da obra
MOREIRA, Vasco; PIMENTA, Hilário; (2012): Preparação para o Exame Nacional 2013 Português 12; Porto: Porto Editora
- A Linguagem
- natural, viva e maleável, utilizada como marca caracterizadora e individualizadora de algumas personagens;
- uso de frases em latim, com conotação irónica, por aparecerem aquando da condenação e da execução;
- frases incompletas por hesitação ou interrupção;
- marcas características do discurso oral;
- recurso frequente à ironia e ao sarcasmo.
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O Espaço Físico em Felizmente Há Luar
Macroespaços:
- Lisboa- que insere a Baixa (onde se situa a sede da Regência)
- o Rato (onde fica a casa do general Gomes Freire de Andrade e de Matilde de Melo)
- o Campo de Sant’Ana (local das execuções)
- Serra de Santo António ( da qual se avista S. Julião da Barra)
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Distanciação histórica (técnica realista- influência de Brecht)
Brecht propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que, de forma mais real e autêntica, possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado. Isto permite ao público espectador uma correspondente distanciação da história narrada e, consequentemente, uma possível tomada de consciência crítica, aprendendo o prazer da compreensão do real, a sua situação na sociedade e as tarefas que pode realizar para ser ele próprio.
Este efeito de estranheza e de distanciação acaba por ter um efeito de aproximação entre o actor e o espectador, na medida em que os dois se distanciam em relação à história narrada e podem, como pessoas reais, discutir o que se passa em palco.
O teatro épico proposto por Brecht contrapõe-se à tragédia clássica para melhor conseguir o efeito social. Enquanto o teatro clássico conduz o público à ilusão e à emoção, levando-o a confundir o que é arte com vida real, no teatro épico a “distanciação” deve permitir comprometimento, crítica contra o individualismo, consciencialização perante o sofrimento dos outros e a realidade social. Deve, na sua tarefa pedagógica, instruir os espectadores na verdade e incitá-los a actuar, alertando-os para a condição humana. O espectador deve ter um olhar crítico para se aperceber melhor de todas as formas de injustiças e de opressões.
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Acção (na apresentação da obra)
A obra recria, em dois actos, a tentativa frustrada de revolta liberal de Outubro de 1817, reprimida pelo poder absolutista do regime de Beresford e Miguel Forjaz, com o apoio da Igreja.
E ao mesmo tempo chama a atenção para as injustiças, a repressão e as perseguições políticas no tempo de Salazar, nos anos 60 do século XX – tempo da escrita (paralelismo entre 2 épocas: o século XIX – 1817 – tempo da história; e o século XX – 1961 – tempo da escrita).
A acção centra-se na figura do general Gomes Freire de Andrade e da sua execução:
– da prisão à fogueira, com descrições dos governadores do Reino;
– da revolta desesperada e impotente da sua esposa e da resignação do povo que “a miséria, o medo, a ignorância” dominam. Gomes Freire de Andrade “está sempre presente embora nunca apareça” e, mesmo ausente, condiciona a estrutura interna da peça e o comportamento de todas as outras personagens.